Investigação
Investigação sobre Tomás Pereira
O primeiro destes projetos nasceu por iniciativa do antigo Ministro da Ciência, Professor Mariano Gago, em articulação com o Centro de História das Ciências Portugal-China em Pequim. Este projeto teve como objetivo o estudo de Tomás Pereira (1646-1708), um missionário português que, ao longo dos 36 anos que viveu em Pequim (1673-1708), se afirmou pela sua dimensão de mediador cultural entre Portugal e a China, nomeadamente através da sua proximidade ao imperador Kangxi (r. 1661-1722), de quem foi professor de música europeia, tradutor/intérprete, conselheiro político e diplomático, com papel determinante na assinatura do Tratado de Nerchinsk entre a China e a Rússia (1689). Paralelamente, Pereira foi Presidente Interino do Departamento Astronómico de Pequim/Qintianjian e um artífice exímio, com competências ao nível da mecânica e das técnicas europeias de projeção e construção de relógios, de instrumentos musicais e autómatos. Para levar a cabo este projeto, foi constituída uma pequena equipa com valências em paleografia, história e latim, capaz de identificar e inventariar, reunir, transcrever e traduzir o corpus documental de Tomás Pereira, que permanecia essencialmente manuscrito e bastante disperso por vários arquivos portugueses e estrangeiros. O trabalho foi realizado com base numa cooperação científica com o Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa. A edição da obra pelo CCCM, em 2011, marcou o final do projeto e contribuiu para a publicação de várias centenas de fólios manuscritos, em dois volumes, de mais de mil páginas, compostos por documentos biográficos, 151 cartas e uma dezena de relatos e tratados. Entre estes, ressalta o primeiro tratado sobre a vida de Buda (Siddharta Gautama) escrito por um europeu, a partir de uma obra chinesa já identificada; bem como algumas relações detalhadas das viagens de Pereira com Kangxi ou com altos dignitários da corte imperial; ou as descrições de objetos mecânicos e de instrumentos musicais que o missionário construiu com tecnologia europeia. Disponibilizaram-se, assim, nesta edição, importantes textos da autoria de Tomás Pereira que contribuíram para um melhor conhecimento do relacionamento e dos intercâmbios entre a Europa e a China Qing em diferentes dimensões, desde a cultural, à científica e tecnológica, para além da diplomática, religiosa e artística. Este projeto resultou ainda na realização de dois colóquios internacionais, em 2008, um em Lisboa, no CCCM, I.P., e outro em Pequim, este último em cooperação com o Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais da Universidade de Lisboa e o Instituto de História das Ciências Naturais da Academia Chinesa de Ciências. De ambos os colóquios foram publicados livros de atas. A divulgação com vista a atingir um público mais alargado fez-se através de cursos de formação ministrados no CCCM, de conferências, da exposição (e respetivo catálogo) Tomás Pereira. Um Jesuíta na China de Kangxi, que esteve patente no CCCM, e da publicação de textos em livros e revistas nacionais e internacionais.
Investigação sobre Álvaro Semedo
Alguns anos após a conclusão deste projeto, teve início um outro sobre uma das figuras nucleares no âmbito do relacionamento entre Portugal e a China Ming: Álvaro Semedo (1585-1658), um missionário português que, como Pereira, teve uma longa vivência da China (entre 1613 e 1658, com interrupções) e um conhecimento aprofundado da sua língua e cultura. Entre o extenso corpus documental de Semedo, distingue-se inequivocamente o livro que publicou em 1642, em língua castelhana, Imperio de la China i Cultura Evangélica en él. Este rapidamente se tornou um best-seller na Europa do século XVII, com seis edições, em quatro línguas diferentes (além do castelhano, o italiano, o francês e o inglês). No final deste projeto, prevê-se a primeira edição crítica da referida obra Imperio de la China, assim como a publicação da restante produção textual de Semedo, constituída por cerca de 40 cartas e relatos, além de um opúsculo, identificados em várias bibliotecas e arquivos de Portugal, Espanha, França, Itália e Bélgica. Igualmente se prevê um estudo monográfico sobre Semedo e a sua obra, tendo em consideração questões como a do contributo do autor no longo processo de constituição e circulação de conhecimento na Europa sobre o império chinês. Vários dos resultados da investigação desenvolvida, até ao momento, começaram a ser disponibilizados através da abordagem do tema em alguns dos cursos realizados no CCCM, I.P., assim como pela participação em seminários e encontros científicos em Portugal e no estrangeiro (Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Universidade de Aveiro, Penn State University, National Tsing Hua University, KU Leuven) e pela publicação de textos nos volumes de atas desses mesmos encontros, e através de comunicações apresentadas noutras instituições.
Investigação sobre Língua e Escrita Chinesa, Tradução e Interpretação
Além destes dois projetos, a dimensão da língua e da escrita chinesa e da tradução/interpretação constitui uma linha paralela de investigação também explorada, face ao seu peso determinante no relacionamento entre Portugal e a China, bem como à sua interligação aos projetos mencionados. Assim, têm-se contemplado aspetos como o da aprendizagem da língua chinesa por parte dos europeus (mandarim ou guanhua) e a concomitante criação de instrumentos linguísticos para o seu estudo (desde vocabulários/dicionários aos programas e manuais) e constituição de equipas de intérpretes chineses, que os jesuítas iniciaram em Macau, a partir de finais do século XVI. Neste âmbito, salienta-se a cooperação entre o CCCM e o Instituto Politécnico de Macau, que permitiu a realização de um colóquio em Macau no ano de 2011. Daqui resultou um livro, publicado em 2013, em português, e em 2016, em chinês. Esta temática tem sido reiteradamente abordada em outros encontros de natureza científica, mas também na oferta formativa do CCCM. Uma área temática como a do relacionamento entre Portugal e a China pressupõe o cruzamento das fontes portuguesas e outras europeias com as chinesas, mas também outras asiáticas, como as japonesas, as coreanas, as malaias ou as vietnamitas. Por conseguinte, a cooperação com a Ásia é um aspeto fundamental para o aprofundamento do conhecimento e um elemento-chave na investigação realizada e a realizar.