CURSO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA
- Data Início: 8 de novembro
- Número de Sessões: 6
- Horário: sábado das 10:00h às 12:30h
- N.º Participantes: 9 (mínimo)
- Língua: Português
- Preço: 80,00€
Descrição do Curso
Se, desde Orientalism (1978), de Edward Said, que o orientalismo é entendido como um tipo particular de discurso etnocêntrico que a Europa produziu sobre a Ásia, só muito recentemente a literatura portuguesa tem sido lida sob esta perspetiva, apesar da longa presença colonial portuguesa na Ásia e da grande produção textual que vem desde o século XVI até aos nossos dias. Assim, com este curso pretende-se oferecer uma panorâmica sobre o modo como o Oriente surge representado no imaginário europeu, com foco na história e na literatura e, em particular, em Portugal. À luz da teoria de Edward Said e do Orientalismo, vamos analisar um conjunto de representações que vai desde as primitivas imagens, que remontam ao século XII, até à atualidade, expondo as dinâmicas de uma relação complexa, entre a sedução e a ameaça. Não sendo caso único, a China assume-se como paradigma dessa ambiguidade, oscilando entre a idealização (Cataio) e o receio (“perigo amarelo”). Em jogo, a constante negociação por que passa a construção da alteridade e da própria identidade, uma vez que o outro é sempre revelador do que somos.
1.ª sessão 8 de novembro: Introdução: panorâmica do curso e conceitos essenciais (HP e DDB)
– A história do Outro (identidade vs. alteridade)
– Entre o real e o imaginário; entre o perigo e o fascínio
– As muitas vidas do mito do Oriente
– Do Orientalismo segundo Said ao problema do orientalismo português
Leituras: Edward Said, “Introdução” a Orientalismo
2.ª sessão 15 de novembro: China: uma sociedade exemplar aos olhos quinhentistas (HP)
– A aproximação do Ocidente ao Oriente
– Informação e poder: a sedução da China
– Um projeto político e religioso
Leituras: excertos escolhidos de Galiote Pereira, “Algumas cousas sabidas da China”; Fernão Mendes Pinto, “Peregrinação”; José de Jesus Maria, “Ásia Sínica e Japónica”; José Inácio de Andrade, “Cartas Escriptas da Índia e da China, nos anos de 1815 a 1835”; Carlos José Caldeira, “Apontamentos de uma Viagem de Lisboa à China, e da China a Lisboa (1852- 1853)”
3.ª sessão 22 de novembro: Um ameaçador Buda montado num Dragão: o iminente “perigo amarelo”
O “perigo amarelo”: os diferentes tons de um discurso racista (HP)
– Do Iluminismo ao colonialismo: imagem e miragem
– A “Questão Oriental”: Expansão, comércio e guerra
– O sonho do Kaiser Wilhelm II (1859-1941)
– Uma nova geopolítica e velhos mitos
– A imigração, uma nova invasão?
– A doença do Outro: o caso da COVID-19
Leituras: Excertos de Sax Rohmer, “The Insidious Dr. Fu-Manchu”; Chinese Exclusion Act of 1882; Jack London, “’The Yellow Peril” (1904)
4.ª sessão 29 de novembro: Visões portuguesas finisseculares da China: entre orientalismo e não-orientalismo: (DDB)
– Como funciona um texto Orientalista?
– Um momento histórico (a China do final da dinastia Qing) tornado a-histórico.
– Um discurso sobre o outro que dispensa verificação.
– Discurso positivo e negativo vs. essencialismo
Leituras: Camilo Pessanha, “Prefácio” a Esboço Crítico da Civilização Chinesa; Manuel da Silva Mendes: “O Pagode de Mong Há” e “Em Romaria”.
5.ª sessão 6 de dezembro: Macau, porta para as representações portuguesas da China (DDB e HP)
– Macau: a cidade cristã e pacífica
– Da China Portuguesa à China Tropical
– O diálogo inter-religioso e intercultural
Leituras: Henrique Senna Fernandes, “A Tchan a tancareira”; Maria Ondina Braga, “Natal chinês”; Benjamin V. Pires, excertos de Os extremos conciliam-se.
6.ª sessão 13 de dezembro:
As índias espirituais: a memória interna do orientalismo português (DDB)
– Orientalismo e império cultural
– As Índias sem Ásia: as índias espirituais
– Os portugueses e Portugal na Ásia como referência primeira do orientalismo português: Camões e Fernão Mendes Pinto
Leituras: Camilo Pessanha, “A gruta de Camões”; Wenceslau de Moraes, “A Gruta de Camões”; António Manuel Couto Viana, “Camões”; Fernando Pessoa, “Opiário” e excertos de O Livro do Desassossego.
Professores
Hugo Pinto, é investigador de temas relacionados com o Oriente, em particular Macau e a China e de momento bolseiro CCCM/FCT. Mestre em Ciências da Comunicação, atualmente é doutorando do curso Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Duarte Drumond Braga, is Assistant researcher at CEHUM, University of Minho. He teaches and publishes on portuguese orientalism and literatures from Goa, Macau and Timor.