Representações do Oriente na Cultura Europeia

CURSO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA

Descrição do Curso

Se, desde Orientalism (1978), de Edward Said, que o orientalismo é entendido como um tipo particular de discurso etnocêntrico que a Europa produziu sobre a Ásia, só muito recentemente a literatura portuguesa tem sido lida sob esta perspetiva, apesar da longa presença colonial portuguesa na Ásia e da grande produção textual que vem desde o século XVI até aos nossos dias. Assim, com este curso pretende-se oferecer uma panorâmica sobre o modo como o Oriente surge representado no imaginário europeu, com foco na história e na literatura e, em particular, em Portugal. À luz da teoria de Edward Said e do Orientalismo, vamos analisar um conjunto de representações que vai desde as primitivas imagens, que remontam ao século XII, até à atualidade, expondo as dinâmicas de uma relação complexa, entre a sedução e a ameaça. Não sendo caso único, a China assume-se como paradigma dessa ambiguidade, oscilando entre a idealização (Cataio) e o receio (“perigo amarelo”). Em jogo, a constante negociação por que passa a construção da alteridade e da própria identidade, uma vez que o outro é sempre revelador do que somos.

 

1.ª sessão 8 de novembro: Introdução: panorâmica do curso e conceitos essenciais (HP e DDB)
– A história do Outro (identidade vs. alteridade)
– Entre o real e o imaginário; entre o perigo e o fascínio
– As muitas vidas do mito do Oriente
– Do Orientalismo segundo Said ao problema do orientalismo português

Leituras: Edward Said, “Introdução” a Orientalismo

2.ª sessão 15 de novembro: China: uma sociedade exemplar aos olhos quinhentistas (HP)
– A aproximação do Ocidente ao Oriente
– Informação e poder: a sedução da China
– Um projeto político e religioso

Leituras: excertos escolhidos de Galiote Pereira, “Algumas cousas sabidas da China”; Fernão Mendes Pinto, “Peregrinação”; José de Jesus Maria, “Ásia Sínica e Japónica”; José Inácio de Andrade, “Cartas Escriptas da Índia e da China, nos anos de 1815 a 1835”; Carlos José Caldeira, “Apontamentos de uma Viagem de Lisboa à China, e da China a Lisboa (1852- 1853)”

3.ª sessão 22 de novembro: Um ameaçador Buda montado num Dragão: o iminente “perigo amarelo”
O “perigo amarelo”: os diferentes tons de um discurso racista (HP)
– Do Iluminismo ao colonialismo: imagem e miragem
– A “Questão Oriental”: Expansão, comércio e guerra
– O sonho do Kaiser Wilhelm II (1859-1941)
– Uma nova geopolítica e velhos mitos
– A imigração, uma nova invasão?
– A doença do Outro: o caso da COVID-19

Leituras: Excertos de Sax Rohmer, “The Insidious Dr. Fu-Manchu”; Chinese Exclusion Act of 1882; Jack London, “’The Yellow Peril” (1904)

4.ª sessão 29 de novembro: Visões portuguesas finisseculares da China: entre orientalismo e não-orientalismo: (DDB)
– Como funciona um texto Orientalista?
– Um momento histórico (a China do final da dinastia Qing) tornado a-histórico.
– Um discurso sobre o outro que dispensa verificação.
– Discurso positivo e negativo vs. essencialismo

Leituras: Camilo Pessanha, “Prefácio” a Esboço Crítico da Civilização Chinesa; Manuel da Silva Mendes: “O Pagode de Mong Há” e “Em Romaria”.

5.ª sessão 6 de dezembro: Macau, porta para as representações portuguesas da China (DDB e HP)
– Macau: a cidade cristã e pacífica
– Da China Portuguesa à China Tropical
– O diálogo inter-religioso e intercultural
Leituras: Henrique Senna Fernandes, “A Tchan a tancareira”; Maria Ondina Braga, “Natal chinês”; Benjamin V. Pires, excertos de Os extremos conciliam-se.

6.ª sessão 13 de dezembro:
As índias espirituais: a memória interna do orientalismo português (DDB)
– Orientalismo e império cultural
– As Índias sem Ásia: as índias espirituais
– Os portugueses e Portugal na Ásia como referência primeira do orientalismo português: Camões e Fernão Mendes Pinto

Leituras: Camilo Pessanha, “A gruta de Camões”; Wenceslau de Moraes, “A Gruta de Camões”; António Manuel Couto Viana, “Camões”; Fernando Pessoa, “Opiário” e excertos de O Livro do Desassossego.

Professores

Hugo Pinto, é investigador de temas relacionados com o Oriente, em particular Macau e a China e de momento bolseiro CCCM/FCT. Mestre em Ciências da Comunicação, atualmente é doutorando do curso Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Duarte Drumond Braga, é doutor em Literatura Comparada pela Universidade de Lisboa desde 2014. É Investigador Auxiliar no CEHUM – Universidade do Minho, onde coordena o grupo Poéticas Em Língua Portuguesa. Coordenou na FLUL o projeto PorAsia – Asian Writing in Portuguese: Mapping Literary and Intellectual Archives in Lisbon and Macau (1820-1955). É autor de As Índias Espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo Português (2019) e dos livros de poesia Ouro na Flan de Tal (2022) e Coisa de Nada (2024).